O tema da 6ª edição da Bienal propõe um questionamento aprofundado da ideia de utilidade e do conceito de “sem uso”. Numa sociedade obcecada com a prossecução de objectivos tangíveis e o acumular de objectos, a ideia de não fazer nada é um absurdo. Pior: é política e socialmente incorrecto. A aparente — porque é disso que se trata — ausência de utilidade ou propósito parece ser hoje o equivalente secular do pecado. No entanto, o tempo passado à espera, a transitar de uma acção útil para a seguinte, não pára de crescer. Procuramos freneticamente preenchê-lo fazendo compras, comunicando sem parar, mantendo-nos – obsessivamente – ocupados. Qualquer coisa, tudo menos não fazer nada.
Se transitarmos para a esfera do design, a ideia de “sem uso” torna-se ainda mais complexa e falar de design inútil resulta num oximoro. O design deve responder a uma necessidade, solucionar um problema. Mas se prestarmos atenção, quantos dos objectos e projectos que nos rodeiam cumprem, efectivamente, o que prometem? Serão todos eles um desperdício de tempo e recursos? Muitos sê-lo-ão certamente, mas outros são tão necessários quanto o sono, esse tempo ocioso preenchido de sonhos.

No programa da EXD’11 a ideia — e juízo de valor subjacente — de inútil ou sem utilidade será examinada de diferentes perspectivas. Numa perspectiva económica, questiona os paradigmas da produção industrial, a inevitabilidade do consumo e as decorrentes problemáticas do desperdício e desenvolvimento sustentável. Numa perspectiva cultural, arrisca um olhar sobre a ética de trabalho do mundo Ocidental e do dogma da produtividade; numa perspectiva social, propõe-se questionar o equilíbrio precário entre percepções objectivas e subjectivas de “valor”, atribuídas a instituições, interacções ou até mesmo indivíduos. Do ponto de vista intelectual ou criativo, traça um perfil do potencial insuspeito — mas avassalador — de experiências, tentativas falhadas, protótipos abandonados e descobertas surpreendentes para as quais não foi, aparentemente, encontrada uma finalidade.

O programa da EXD’11 propõe reavaliar conceitos — e preconceitos — ligados à utilidade e sua ausência. A inutilidade, tal como a beleza, está nos olhos de quem vê; tal como o prazer puro, é desinteressada. Uma experiência inútil pode apaziguar ou exacerbar o desejo; pode levar- nos a usar menos ou, pelo contrário, a querer mais. Useless pode conduzir-nos à problemáticas concretas, de aplicabilidade e execução definidas, ou pode igualmente inspirar uma reflexão simbólica, quase lírica, sobre a importância de dimensões como a beleza, o sonho e a invenção.