ANDRÉ ROMÃO E GONÇALO SENA
CORRELAÇÃO SIMULTÂNEA


André Romão e Gonçalo Sena são nomes emergentes do panorama artístico nacional que começam, aos poucos, a gerar interesse internacional. Tendo em conta a faixa etária, são ambos donos de um currículo revelador. Nesta exposição pretende-se salientar a conexão existente entre os trabalhos destes autores, nomeadamente no que concerne o entendimento espacial. Embora o modo de tratamento do conceito seja antagónico, as obras expostas articulam-se com coerência. No caso de André Romão, cujo trabalho deriva de uma reinvenção ou mesmo de um repensar de referências, quer históricas, quer literárias, adquirindo por vezes uma conotação política, o artista vem construir todo um universo de cariz metafórico.
As obras homónimas “Modelo para sede do sindicato dos mineiros” têm o poder de remeter o espectador para um ambiente onde abundam elementos arquitectónicos primários. No seu trabalho, Gonçalo Sena tem vindo a aprofundar questões que se encontram directamente ligadas à temática espacial e ao modo como as formas interagem com o observador. Com “Molde/Modelo para eixos verticais”, o artista desafia a gravidade com planos pontiagudos, dispostos entre si, jogando com o plano horizontal que metaforiza o plano terrestre. A dimensão espacial é bem notória nos traços desenhados, num relevo escultórico capaz de transportar o espectador para um espaço arquitectónico, como sucede com a série de cinco desenhos “Sem título”.

Baginski, Galeria/Projectos




André Romão

ANDRÉ ROMÃO
Modelo para sede do sindicato dos mineiros, 2008
Impressão digital a partir de negativo 35mm
10x15cm (cada)

Este trabalho surge no contexto de uma série que parte da greve mineira no Reino Unido nos anos de 1884/85. As imagens são uma documentação fotográfica de pequenas esculturas semelhantes a maquetas construídas em papel. Um projecto utópico que actuaria historicamente de forma retroactiva como uma maqueta para um acontecimento passado, mais que um estudo arquitectónico efectivo, este trabalho cria um lugar abstracto, um cenário, para uma série de acontecimentos históricos.
André Romão

ANDRÉ ROMÃO
Vitrúvio, 2010
Impressão lambda sobre PVC
70x100cm

Esta fotografia mostra uma escultura pública em Roma do teórico romano de arquitectura. A escultura decapitada apresenta-se quase como uma alegoria indecifrável, em que as múltiplas imagens sugeridas confrontam pólos tão antagónicos como arquitectura e racionalismo, vandalismo e construção, teoria e vernaculidade.
Gonçalo Sena

GONÇALO SENA
Molde/Modelo para eixos verticais, 2010
Grafite sobre madeira, fotocópia, cimento, ferro e vidro
80x80x45cm

A escultura Molde/Modelo para eixos verticais e a fotografia Sem título fazem parte de uma série de trabalhos relacionados com a ideia de visibilidade e invisibilidade relativas ao que está sobre e debaixo da terra, numa perspectiva de estado de ruína e acto de projecção. A mesa-plinto é constituída por materiais base de construção arquitectónica, ferro, cimento e vidro, e mostra duas propostas para acentuação espacial de eixos verticais: uma secção de mármore de um aqueduto pode ser um molde para uma coluna; três triângulos rectos de grafite em equilíbrio sob um eixo central, um estudo escultórico para ser erguido.
Gonçalo Sena

GONÇALO SENA
Sem título, 2010
Impressão Lambda
70x100cm

A fotografia mostra o desenho de uma estrutura também piramidal – tal como na mesa, mas agora sem o eixo central visível – e foi fotografada no espaço como encontrada, como um registo visual arqueológico.




ANDRÉ ROMÃO

André Romão (Lisboa, 1984) vive e trabalha em Berlim, onde desenvolve uma residência artística na Künstlerhaus Bethanien como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Formado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, nos seus trabalhos André remete o espectador para um universo artístico convocando a literatura, poesia, filosofia e história e trabalhando variados suportes entre eles desenho, fotografia, vídeo e instalação.
Vencedor do Prémio EDP Novos Artistas em 2007, em 2010 realizou uma exposição individual na Kunsthalle Lissabon e participou nos Solo Projects, ARCO Madrid, a par de mostras colectivas no Museu da Electricidade, Fundação Calouste Gulbenkian e Museu de Serralves. André Romão tem exposto regularmente desde 2006, incluindo: “Desenhos [Drawings] A-Z. Colecção Madeira Corporate Service”, Museu da Cidade, Lisboa; “Democracia entre Tiranos”, Galeria Pedro Cera, Lisboa; “JENSEITS”, EnBlanco, Berlim (2009); “Ocorrência”, Baginski, Lisboa; “Luoghi per Eroi”, Vianuova Arte Contemporânea, Florença; “A River Ain’t Too Much To Love”, Spike Island, Bristol; “Tracção”, Artecontempo, Lisboa (2008); “Antes que a Produção Cesse”, Espaço Avenida (2007), “A Derrota”, Galeria do Lagar do Azeite, Oeiras e “O Pavilhão de Augusta Narval”, Lisboa (2006).
GONÇALO SENA

Gonçalo Sena (1984) licenciou-se em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa em 2007. Concentrando a sua prática na utilização do desenho enquanto modo de pensar, realiza peças normalmente apresentadas na forma de escultura e/ ou instalação. Os seus desenhos tanto funcionam como esboços de projectos futuros ou realizados, como se transformam em objecto final, traçando ligações. Os seu trabalhos mostram uma linha constante e estruturante de investigação à volta do espaço, a sua materialidade e imaterialidade, interferência connosco e potência real e conceptual.
O ano de 2010 assistiu à sua primeira mostra individual na Baginski Galeria/Projectos. Nomeado para o Prémio Novos Artistas EDP em 2009, expôs no Museu da Electricidade/Fundação EDP, Lisboa, a par da participação num projecto em The Mews, Londres e nas colectivas “On the Razor’s Edge”, Galeria Heinrich Ehrhardt, Madrid e “JENSEITS”, EnBlanco, Berlim. Gonçalo Sena expõe regularmente desde 2006, destacando-se as exposições “O contrato do desenhista”, Plataforma Revolver, Lisboa; “Finisterra”, Centro Cultural de São Lourenço; “Tracção”, ArteContempo, Lisboa, que co-organizou (2008); “Antes que a produção cesse”, Espaço Avenida, Lisboa (2007); “A Derrota”, Galeria Municipal Lagar de Azeite, Oeiras e “Para – tra il concetto di corpo e sogno”, Turim (2006).