
A obra cinematográfica de Robert Breer foi marcada, nas suas diferentes fases, por um interesse pelas colisões entre as imagens e pelas suas metamorfoses e pelas técnicas de composição e montagem e caracterizada por uma inventividade formal sem limites e por uma constante irrisão que torna os seus filmes tão singulares. Nos seus filmes, as figuras articulam-se de forma inesperada, somos surpreendidos pelas constantes associações e articulações entre elas (os objectos e todas as coisas metamorfoseiam-se em comentários espontâneos e divertidos), pelo impacto das colisões e velocidade das imagens, pelos constantes jogos de linguagem e de sentido, pela intensidade cromática e rítmica dos seus filmes abstractos, e pelo modo como as imagens reais se envolvem com a animação, com o desenho, pela forma como o quotidiano se insinua nos seus filmes, marcados pela sua história pessoal, pelas estações, os locais por onde passou e habitou, pelas imagens familiares.
O programa chama-se
Colisões, fazendo referência a uma das formas preferidas do realizador de trabalhar com as imagens (e a sua relação com o espectador) e é uma celebração da obra cinematográfica de Breer, concentrando em quatro sessões momentos distintos da sua filmografia, do seu início até ao último filme que realizou, a que se acrescentaram dois apontamentos documentais sobre a sua obra em que também é questão das esculturas de Breer e das suas ideias sobre o movimento e a imobilidade na sua obra.
19:30
FANTASMAGORIE de Émile Cohl
FRANÇA, 1908, 35MM (EM VÍDEO), SEM SOM, 1 MIN
A MAN AND HIS DOG OUT FOR AIR de Robert Breer
EUA, 1957, 16MM, SOM, 2 MIN
UN MIRACLE de Robert Breer
EUA, 1954, 16MM, SOM, 28 SEG
RECREATION de Robert Breer
EUA, 1956, 16MM, SOM, 2 MIN
JAMESTOWN BALLOONS de Robert Breer
EUA, 1957, 16MM, SOM, 6 MIN
EYE WASH de Robert Breer
EUA, 1959, 16MM, SOM, 4 MIN
BLAZES de Robert Breer
EUA, 1961, 16MM, SOM, 3 MIN
HORSE OVER TEA KETTLE de Robert Breer
EUA, 1962, 16MM, SOM, 6 MIN
BREATHING de Robert Breer
EUA, 1963, 16MM, SOM, 5 MIN
ROBERT BREER (RUSHES DE HIROSHIMA VIVE LE CINÉMA) de André S. Labarthe
FRANÇA, 1996, 16MM (EM VÍDEO), SOM, 56 MIN
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A sessão abre com um filme de Émile Cohl, em tributo a uma das principais inspirações do cinema de Robert Breer: FANTASMAGORIE é um espantoso filme de animação que começa com a mão do autor a desenhar um palhaço num quadro negro e a libertar a sua figura numa inventiva e progressiva metamorfose.
Seguem-se oito curtos filmes de Breer, realizados entre 1954 e 1963: “um jogo livre de linhas e ritmos puros” na expressão de Breer (A MAN AND HIS DOG OUT FOR AIR); um primeiro filme de colagem (UN MIRACLE); um exemplo de ruptura da continuidade fotograma a fotograma cujas imagens são acompanhadas por um texto lido por Noël Burch num francês ininteligível (RECREATION); um título que sintetiza um conjunto de técnicas utilizadas por Breer (JAMESTOWN BALOONS); um filme que associa livremente a imagem fotográfica à abstracção geométrica pintada à mão por Breer (EYEWASH); “100 imagens básicas a mudar de posição em quatro mil fotogramas. Uma explosão contínua” (BLAZES, segundo Breer); um filme que evoca o trabalho de Émile Cohl (HORSE OVER TEA KETTLE); e BREATHING, “Neste caso decidi… que ia manter as coisas muito próximas de imagens directas e concretas… o movimento daquela linha, o seu lugar no ecrã, a sua densidade e ritmos… seriam a totalidade do filme” (R. Breer).
Por último, ROBERT BREER (RUSHES DE HIROSHIMA VIVE LE CINÉMA), um documento raro recentemente recuperado pela Cinemateca Francesa que compila rushes de diferentes encontros de André S. Labarthe com Robert Breer, parte da série Hiroshima. Vive le Cinéma. Os registos tiveram lugar em Montreal (uma conversa entre Labarthe e Breer centrada nos métodos de composição utilizados nos filmes de animação deste último) e em Nova Iorque (uma conversa entre Annette Michelson e Breer sobre escultura, os seus objectos móveis e a suas ideias sobre os seus projectos esculturais, os seus “mutoscópios” e “flutuantes”).
duração da sessão: apróx. 85 minutos
19:30
HOMAGE TO JEAN TINGUELY’S “HOMAGE TO NEW YORK” de Robert Breer
EUA, 1960, 16MM, SOM, 9 MIN
PAT’S BIRTHDAY de Robert Breer
EUA, 1962, 16MM, SOM, 13 MIN
FIST FIGHT de Robert Breer
EUA, 1964, 16MM, SOM, 9 MIN
STOCKHAUSEN’S ORIGINALE: DOUBLETAKES de Peter Moore
EUA, 1964-94, 16MM (EM VÍDEO), SOM, 30 MIN
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No primeiro filme da sessão, espécie de registo da construção da escultura “auto-destrutiva” de Jean Tinguely criada para uma performance nocturna no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, Breer explora uma série de técnicas de filmagens, recorrendo a planos breves e fotografias animadas para dar à escultura uma vida própria e independente. PAT’S BIRTHDAY é um registo fragmentário – “blocos de tempo exteriores à narrativa” – de um happening numa festa de aniversário em que Claes Oldenburg constrói um bolo-colagem à mulher.
Um dos mais espantosos filmes de Breer, originalmente apresentado na estreia da performance de Originale de Karheinz Stockhausen em 1964, FIST FIGHT é uma autobiografia que combina fotos pessoais e de família com cores intensas, texturas e abstracções geométricas. A sessão conclui com o filme de Peter Moore STOCKHAUSEN’S ORIGINALE: DOUBLETAKES, que documenta a estreia norte-americana da produção Originale, um happening de Karlheinz Stockhausen. Filmado no segundo Festival Anual de Vanguarda, produzido por Norman Seaman e Charlotte Moorman, a produção foi apresentada no Judson Hall em Nova Iorque e foi dirigida por Allan Kaprow. Entre os participantes encontravam-se Robert Breer, Nam June Paik, Charlote Moorman, Jackson MacLow, Allen Ginsberg.
duração da sessão: apróx. 61 minutos
22:00
FORM PHASES I de Robert Breer
EUA, 1952, 16MM, SEM SOM, 2 MIN
FORM PHASES II de Robert Breer
EUA, 1953, 16MM, SEM SOM, 2 MIN
FORM PHASES IV de Robert Breer
EUA, 1954, 16MM, SEM SOM, 4 MIN
69 de Robert Breer
EUA, 1968, 16MM, SOM, 5 MIN
70 de Robert Breer
EUA, 1970, 16MM, SEM SOM, 5 MIN
77 de Robert Breer
EUA, 1977, 16MM, SOM, 5 MIN
GULLS AND BUOYS de Robert Breer
EUA, 1972, 16MM, SOM, 7 MIN
RUBBER CEMENT de Robert Breer
EUA, 1975, 16MM, SOM, 10 MIN
FUJI de Robert Breer
EUA, 1974, 16MM, SOM, 9 MIN
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A sessão inicia-se com a apresentação de três dos primeiros filmes de Robert Breer da série Form Phases, influenciados pela sua prática artística e pela pintura. São trabalhos sobre a composição em movimento, geométrica e abstracta.
“69 desfaz-se a si próprio. Começa como um sistema, e depois o sistema desagrega-se e vai para o inferno. Durante a montagem surgiu-me a ideia de que se devia desagregar e então misturei os cartões. Achei que merecia desfazer a minha própria pretensão à pureza formal” (R. Breer). Em 70, às formas afiadas e lineares dos filmes anteriores, juntam-se formas mais suaves com contornos pulverizados; o ritmo fotograma a fotograma dos filmes anteriores transforma-se em padrões a dois fotogramas (e mais longos) de alternância. Com 77, “Breer celebra a liberdade endémica na animação ao dar ao espectador um papel criativo no processo da metamorfose” (Noël Carroll).
GULLS AND BUOYS é o primeiro filme em que Breer usa o rotoscópio. As imagens delineadas são típicas de um qualquer filme amador feito à beira-mar, mas são vistas e analisadas em fragmentos isolados; partes de corpos e objectos, movimentos parciais, entremeados como um jogo de formas mais abstractas e de cores. Em RUBBER CEMENT, colecção anárquica de invenções, Breer usa o rotoscópio para trabalhar imagens de família com objectos encontrados para criar uma animação quase sem forma que explode com cor e movimento. FUJI é um dos mais belos e surpreendentes filmes de Robert Breer. Como o título indica, parte do contorno do Monte Fuji, no Japão, filmado numa viagem de comboio. Breer usa o rotoscópio para envolver as formas que vemos numa especulação prolongada sobre os limites entre a representação e a abstracção. É ainda uma montanha ou apenas outras das obsessões geométricas de Breer?
duração da sessão: apróx. 110 minutos
22:00
LMNO de Robert Breer
EUA, 1978, 16MM, SOM, 10 MIN
TZ de Robert Breer
EUA, 1979, 16MM, SOM, 9 MIN
SWISS ARMY KNIFE WITH RATS AND PIGEONS de Robert Breer
EUA, 1981, 16MM, SOM, 7 MIN
TRIAL BALLONS de Robert Breer
EUA, 1982, 16MM, SOM, 6 MIN
BANG de Robert Breer
EUA, 1986, 16MM, SOM, 10 MIN
A FROG ON THE SWING de Robert Breer
EUA, 1989, 16MM, SOM, 5 MIN
ROBERT BREER AT HOME de Jennifer L. Buford
EUA, 1992, 16MM, SOM, 7 MIN
SPARKILL AVE! de Robert Breer
EUA, 1993, 16MM, SOM, 5 MIN
TIME FLIES de Robert Breer
EUA, 1997, 16MM, SOM, 5 MIN
ATOZ de Robert Breer
ESTADOS UNIDOS, 2000, 16MM, SOM, 5 MIN
WHAT GOES UP de Robert Breer
ESTADOS UNIDOS, 2003, 16MM, SOM, 5 MIN
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A sessão reúne onze títulos, um deles não de mas com Robert Breer (ROBERT BREER AT HOME), em que Jennifer L. Buford o filma a mostrar alguns dos mutoscópios e cartões que fez para o filme SPARKILL AVE! em que, alternando fotografias, desenhos, animação e jogos de palavras e imagens, Breer mostra cenas da vida quotidiana na avenida em que vivia. O conjunto dos filmes de Breer reunidos na sessão foram realizados entre 1978 e 2003, combinando imagens de acção real e desenho, colagens, imagens refotografadas e animação, e evocando temas familiares da sua obra, como a abstracção face à representação. Entre eles, um dos títulos dos anos 1980 a que chamou “animação para crianças”, A FROG ON THE SWING e um filme dedicado a Zoe, a primeira neta de Breer, ATOZ, um alfabeto animado em que as ilustrações para cada uma das letras parecem ter sido escolhidas arbitrariamente como num dicionário.
A fechar, o filme que encerra a filmografia de Breer e é um resumo das suas técnicas e da sua visão do cinema, construído a partir de fotogramas, desenhos, colagens, sons, extractos de vídeo e fotografias: WHAT GOES UP.
duração da sessão: apróx. 84 minutos