2007.01.29
COMUNICADO

A Experimenta decidiu cancelar a quinta edição da “ExperimentaDesign - Bienal de Lisboa” que deveria realizar-se entre 12 De Setembro e 4 de Novembro deste ano. O cancelamento deve-se única e exclusivamente ao incumprimento pela parte da Câmara Municipal de Lisboa do compromisso assumido por esta autarquia a 22 de Junho de 2006 relativamente a este evento.

De forma inesperada a Experimenta recebeu a 12 de Dezembro de 2006 uma carta, datada de 4 de Dezembro, onde, laconicamente, nos foi transmitido que a Câmara Municipal de Lisboa não iria atribuir à ExperimentaDesign2007 – Bienal de Lisboa a verba de 500 mil euros com que se tinha comprometido a 22 de Junho desse mesmo ano ou “qualquer outra contribuição financeira à bienal por motivos de conveniência e de oportunidade – e num contexto de contenção orçamental.”

A alteração da decisão do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Professor António Pedro Carmona Rodrigues, foi tomada de forma unilateral ou seja, sem consultar o outro parceiro estratégico da bienal, o Estado Português, nomeadamente o Ministério da Cultura, com quem a Experimenta tinha já assinado no dia 3 de Novembro de 2006 um protocolo relativo à próxima edição da Bienal de Lisboa, facto que foi nessa data imediatamente comunicado ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e o Ministério da Economia, entidade com a qual a Experimenta estava também a negociar uma parceria estratégica como era igualmente do conhecimento da Câmara Municipal de Lisboa.

A montagem financeira da ExperimentaDesign – Bienal de Lisboa efectua-se através de um desenho que pressupõe uma parceria estratégica entre a sociedade civil, a Autarquia lisboeta e o Estado Português.
A quinta edição da bienal foi distinguida a 14 de Junho de 2006 com o Alto Patrocínio do Presidente da República, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva.

Não será demais voltar a dizer que a ExperimentaDesign – Bienal de Lisboa é:

• Um projecto único e inovador no contexto nacional e internacional, pensado e produzido por portugueses, cujo conceito não foi importado de nenhum outro local;
• Um caso de estudo de sucesso que tem sido, por esse motivo, apresentado como tal nas mais diversas cidades do mundo e objecto de estudo em diversos “think tank's” internacionais, que coloca Portugal e Lisboa no centro das diversas actividades da área do design mundial;
• O único evento com estas características na Península Ibérica, com um potencial extraordinário no que se refere ao desenvolvimento das relações com a América Latina, com a China e a Índia no contexto europeu;
• Uma bienal considerada pela critica e pelos diversos agentes da área como um dos melhores, mais bem organizados e mais importantes eventos de design internacionais;
• Uma bienal que provou ter a capacidade de atrair um público internacional de alto nível e que contribui de forma determinante para a qualificação da oferta turística e cultural lisboeta e que representa para a Câmara Municipal de Lisboa um investimento financeiro de apenas 250.000 euros anuais;
• Uma bienal que serve de plataforma de estímulo, promoção e divulgação da capacidade criativa e produtiva portuguesas na área do design, arquitectura e criatividade;
• Um caso de estudo de sucesso apresentado como tal no âmbito do balanço e perspectivas futuras do Programa Operacional da Cultura, a convite da unidade de gestão deste programa, que apoiou por duas vezes a Bienal;
• Uma alavanca para a economia portuguesa e lisboeta, investindo nos criadores portugueses, nomeadamente na área do design, arquitectura e criatividade, articulando o seu trabalho com o tecido industrial e empresarial;
• Uma bienal portuguesa que tem demonstrado ao longo dos anos conseguir atrair investimento estrangeiro para o nosso país sob a forma de uma rede de co-produções com os mais prestigiados interlocutores internacionais e com diversos organismos estatais dos mais importantes países do mundo;
• Uma bienal que é mais de 80% gratuita e que oferece à capital portuguesa e ao país um mês e meio de programação cultural continua e de elevada qualidade e com um serviço educativo que apoia toda a programação;
• Um evento que apresenta a mais valia de uma forte estratégia de comunicação internacional integrada no seu orçamento e uma rentabilização de alguns dos projectos apresentados na bienal após o fim de cada uma das edições;
• Um projecto que tem sido, até agora, sempre aprovado por unanimidade na Assembleia Municipal da Câmara Municipal de Lisboa e obtido o apoio do Estado Português, o Alto Patrocínio do Presidente da República e de um grupo altamente credenciado de mecenas, nacionais e internacionais.

É pois extraordinário que, no ano em que Portugal assume a Presidência do Conselho da União Europeia, a cidade que dá o nome a um dos mais importantes documentos estratégicos da União Europeia, a Agenda de Lisboa, onde é realçado o papel da criatividade e da cultura como vectores de coesão e desenvolvimento social, a Câmara Municipal de Lisboa, de uma forma unilateral, elimine deste modo um projecto desta importância e significado, criado por uma associação sem fins lucrativos e onde a autarquia investe apenas 20% do seu orçamento total, que é de 2.600.000 euros, montante esse dividido em dois anos.

É difícil acreditar que no momento em o design teve pela primeira vez lugar de destaque no “World Economic Forum” de Davos em 2006, sob o tema “Inovação, Criatividade e Design Estratégico” e em que se assiste a um crescente número de cidades que tentam criar eventos dedicados ao design como prova do seu dinamismo e competitividade e do reconhecimento da importância desta disciplina para o desenvolvimento sustentado da sociedade, o actual executivo camarário da capital portuguesa, sem qualquer diálogo e faltando ao compromisso anteriormente assumido, acabe deste modo com a ExperimentaDesign – Bienal de Lisboa.

As consequências do cancelamento de um projecto no qual foram já investidos ao longo de 4 edições, desde 1998 a 2006, mais de 8 milhões de euros, que posicionou a capital portuguesa e Portugal no circuito internacional dos grandes eventos culturais com um projecto pensado, concebido e produzido por portugueses, serão devastadoras.

Não será só o embaraço perante a comunidade internacional mas acima de tudo a perda de um evento que promovia de forma definitiva a criatividade e capacidade portuguesas, formava e informava o público português e atraía a Lisboa e a Portugal milhares de visitantes.

No momento em que recebeu a carta da Câmara Municipal de Lisboa, a 12 de Dezembro de 2006, e a cerca de 9 meses do evento, a Experimenta tinha pronto o programa da Bienal de Lisboa, as parcerias institucionais e internacionais estavam estabelecidas e o grupo de mecenas e marcas associadas da bienal estava definido. A comunicação internacional estava há muito iniciada e já reflectida nos calendários internacionais dos eventos na área da cultura e do design e a comunicação nacional tinha o seu primeiro momento agendado para dia 28 de Fevereiro.

Tendo a Câmara Municipal de Lisboa assumido um compromisso com a Experimenta relativamente à quinta edição da ExperimentaDesign – Bienal de Lisboa e tendo por esse motivo a Experimenta desenvolvido todo o programa da Bienal de Lisboa para 2007 a Experimenta irá responsabilizar a Câmara Municipal de Lisboa por todos os danos causados por este cancelamento através dos meios disponíveis na Lei Portuguesa.

Experimenta
Lisboa, 29 de Janeiro de 2007